Entrevista com Diogo Alho

Diogo Alho, da Associação Académica de Coimbra, foi um dos grandes destaques do IV Festival Internacional de Xadrez da Figueira da Foz.Único jogador não titulado entre os dez primeiros, obteve sua primeira norma de Mestre Internacional e derrotou, entre outros, o GM Luís Galego e o MI Búlgaro Rusev.No rescaldo deste excelente resultado, Diogo Alho concedeu-nos esta pequena entrevista:
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No último ano foi nítida a tua evolução. O Torneio da Figueira foi o ponto alto desta fase ascendente. A que atribuis esta boa fase?
É uma pergunta difícil, em Xadrez é sabido que os resultados aparecem após alguma alteração de comportamento e ou estudo, pois bem, de facto desde há um ano e tal que vejo o jogo de forma diferente, menos pragmática. Para além disso, deixei de me auto-pressionar no sentido de atingir certos resultados, no entanto, pressiono-me para dar o melhor que puder, por exemplo, fazendo auto análise antes do jogo e quando este começa, há concentração desde o lance 1.
Conseguiste a norma de MI as ainda estás longe dos 2400. Quais os teus objectivos a curto e médio prazo? O título de Mestre Fide?
O título de MF parece-me uma meta atingível, se o bom momento permanecer deverá ser atingido em breve, se piorar, pois terá de ficar para outra ocasião, de qualquer maneira, sinto que poderá estar próximo.
Em relação à norma, há uma série de conjunturas que me foram favoráveis, poderá voltar a surgir, mas para ser realmente uma situação sintomática terei de estar bastante melhor, pelo menos a valer uns 70 pontos a mais.
Falemos agora do torneio propriamente dito. Fizeste alguma preparação especial? Como foi o desenvolvimento do torneio para ti?
A grande preparação foi com base em descanso e descontracção. As linhas estavam vistas, a táctica estava aguçada. Há não muito tempo tinha jogado trinta e algumas lentas no espaço de 2 meses. Entretanto descansei. Acabou por ser mais calma e desfrute do jogo que outra coisa. No torneio fiz uma terceira partida com o GM Vladimirov muito fraca, apesar de ter tido chances, senti que foi fraca porque os melhores golpes vi-os mas por uma ou outra razão não os executei. Isto deveu-se a estar completamente fora da posição e ter consumido muito tempo. Esta partida fez com que tivesse sempre os pés bem assentes na terra. A situação da norma fica claramente à minha disposição após bater o MI Rusev, mas sinceramente e se calhar para minha sorte, tinha a ideia que não era matematicamente possível chegar à perfomance se não pontuasse com o FM Kovalyov. Não pontuei e entrei para a última ronda descontraído.
Queres contar-nos algo a respeito do teu método de treino e estudo?Cada vez mais tento debruçar-me sobre as minhas partidas. Após perceber algumas coisas que abordava mal, tentei novos caminhos. O repertório de aberturas é fundamental com o ritmo que se joga nos dias de hoje. A boa gestão de tempo dá muitos pontos. Em relação a estudo e treino, com a minha actividade profissional é complicado, vou lendo umas coisas, interesso-me por novos esquemas e vou vendo o que se joga ao mais alto nível, mais por curiosidade. Treino fundamentalmente com os torneios e preparando algumas partidas.
A AAC mantém-se há vários anos na 1ª Divisão com uma equipa competitiva. Acreditas ser possível chegar ao título nacional?
O título nacional tem sido tão possível quanto a minha norma. Não somos primeiros favoritos, mas num ano em que estejamos todos a jogar bem e essencialmente a pontuar, muitas vezes pontua-se bem sem jogar bem, poderemos tornar-nos uns candidatos. Os nossos jogadores polacos se em forma podem bater qualquer um, Petr Velicka e eu somos mais previsíveis.
O que pensas do actual estado do Xadrez em Portugal? És optimista?
O Xadrez carece de divulgação. Os nossos campeões têm de ser reconhecidos, temos que chegar à pessoa comum. Eu nunca joguei ténis e sei quem foram alguns campeões da modalidade. Para isso é fundamental que sejam criados meios de comunicação, bons sites, que noticiem e de preferência profundamente e comissões da FPX e AX distritais que cheguem aos jornais. Nisto há muito para evoluir. Temos de aprender ou reaprender a vender a nossa actividade.
Se conseguirmos dar volta a esta situação penso que muitas portas se abrirão, não falo em mundos e fundos mas pelo menos que possamos dignificar a modalidade em termos de condições.
Um exemplo disto foi o que se passou comPreliminar do Nacional, apesar do grande esforço, da FPX, a sala e mesas disponibilizadas foram claramente uma pecha do campeonato. A sala era grande mas não foi por isso que alguém filmou/fotografou. Seria uma notícia, 80 jogadores a jogar o Preliminar. Não havia uma zona separada da sala para análises. Estas questões para dignificação dos campeonatos têm de ser precavidas atempadamente.
No oposto temos o torneio da Figueira, está de parabéns, condições fantásticas que dão gosto jogar e ver jogar.
Esta opinião parece generalizar-se pelo que penso que podemos melhorar, o que me torna optimista.